Vinho - Brilho
Cativo do Sol
Conhecido desde a antigüidade, o vinho já tinha
o seu lugar de honra. Chamado no Antigo Egito como o "Brilho
cativo do Sol", ele já clareava as grandes e imponentes
festas de gala, da alta casta egípcia. Tão admirado
que era, que foram escritos em papiro egípcio os primeiros
tratados de Vinicultura, detalhando como se plantava, colhia,
fabricava e bebia o vinho. Ainda teve destaque em poemas e
pinturas da arte egípcia. Além de fazer parte
das cerimonias religiosas da casta sacerdotal.
Selo demonstrando como treinar um videira
para correr na trelhiça ou pérgula.
O Egito destinava grandes propriedades, as margens do rio
Nilo, somente ao cultivo da uva. Há cerca de 2700 anos
A.C., no Delta do Nilo, já eram cultivadas as primeiras
videiras e existia uma próspera industria produzindo
5 tipos de vinhos. Muitas dessas propriedades pertenciam ao
Faraó, assim como as adegas reais do qual era garantido:
forneciam os melhores vinhos. A aparência também
era importante. A qualidade do vinho era expressada nos Cântaros
com tampas, bem lacrados, que foram as primeiras "garrafas".
Com isso os egípcios garantiam a qualidade do vinho
por longos períodos, impedindo a oxidação
e a transformação em vinagre. Os cântaros
destinados a casta real e sacerdotal, não eram vasos
lisos e simples, mas obras de arte, com detalhes artísticos
na sua forma. Seguidos de uma pintura descrevendo a fabricação
do vinho e a manutenção das adegas. Os egípcios
ainda criaram os primeiros rótulos. Na rolha ou tampa
do cântaro, continha a escrita que indicava o ano, o
nome e a localização da propriedade. Como por
exemplo um dos 40 cântaros encontrado na tumba do Faraó
Tutancamon, do qual um vinicultor real escrevera: "Ano
9, vinho do sítio de Tutancamon, do rio ocidental".
Uma raridade de 3000 anos, é claro se o vinho não
tivesse secado. 
Cântaro de vinho, feito de cerâmica com
uma rolha ou tampa também de cerâmica.
Quanto ao sabor, ainda não foi possível distinguir.
Mas sabe-se que os sacerdotes e os nobres recebiam do faraó,
vinho puro. Já os mais pobres tomavam um vinho misturado,
talvez com água, ou já em oxidação.
Ao lado do Trigo e da Cevada, que se produzia o pão,
o vinho teve seu lugar a mesa do egípcio. A parceria
do pão e vinho, fazia parte do cotidiano do povo egípcio.
Os Cântaros de vinho abasteciam tanto as bodegas das
casas mais pobres, quantos as dos luxuosos palácios
e templos. Sendo bem vindo à classe sacerdotal, sem
pecado algum. O vinho era largamente oferecido nas festas
públicas dadas pelo faraó, em comemorações
reais ou feriados nacionais. E, claro, tinha presença
obrigatória em reuniões particulares, onde se
sobressaiam as taças e os cântaros com os seus
ricos adornos. E com presença de convidado muito especial,
como destaca Heródoto (II, 78):
"Quando os ricos egípcios se reúnem para
refeição e bebida, mostra-se um defunto num
ataúde ... O hospedeiro fala a seus companheiros: Olhai
para este! Quando estiverdes mortos também tereis este
aspecto e não podereis aproveitar mais nada. Por isso
comei, bebei vinho e sede alegres enquanto viverdes."

Damas em um banquete.
Mural egípcio
Nos banquetes o vinho era servido com frutas, pastéis,
bolos e assados de carne bovina ou de pato e até bebido
com canudinho. O vinho disputava a concorrência da cerveja
nessas reuniões, mas tinha a preferência feminina.
Ao contrário do que se pensa, o pobre egípcio
tinha acesso ao vinho, e gostava muito. A qualidade pode até
ser discutível.
Na religião, o vinho também teve seu papel,
não só pelo gosto dos sacerdotes, como pelas
oferendas do faraó aos deuses. O sacerdote que tinham
direito a panos de linho, ouro, e outros privilégios.
Recebiam também o vinho puro, geralmente das adegas
do faraó. Nas grandes cerimonias do Egito, o faraó
depositava o seu cântaro como oferta a um determinado
deus. Como tudo que era bom na vida do egípcio, também
o era na vida após a morte. Os vinhos eram colocados
em sua tumba, para que o indivíduo pudesse desfrutar
do prazer. Acompanhando os cântaros, era pintado nas
paredes da tumba, cenas típicas de festa e banquetes
com a consumação do vinho. Apesar da grande
popularidade do vinho, ao contrário dos romanos e gregos,
os egípcios não chegaram a ter um deus específico
para vinho, como o romano Baco e o grego Dioniso.
Os egípcios não inventaram o vinho, mas souberam
como hoje, ou até mais que hoje, desfrutar de todo
o encanto do "Brilho cativo do sol". Registrado
nas paredes dos palácios, templos e tumbas. Nos poemas
e cartas escritas em papiro ou nos inúmeros objetos
de arte e do cotidiano. É possível, ter acesso
aqueles momentos, e conhecer a simpatia que os egípcios
tinham pelo vinho. E conhecer também os abusos do excesso
de consumação. Dessa maneira, os egípcios
deixaram para a posteridade, uma das razões pela qual
a região é chamada de "Berço da
civilização".
Fonte: O vale dos Reis, Editora Itatiaia limitada.
Museu da Universidade da Pennsylvania.
Museu do Cairo - Egito. |